O que podemos esperar da proposta de plano cicloviário da gestão Bruno Covas para a Zona Leste?

INTRODUÇÃO


Na última segunda-feira, dia 6 de maio de 2019, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo publicou, em sua página no Facebook, uma nota sobre a realização de audiências públicas para debater com toda a sociedade civil a proposta do plano cicloviário. Trata-se de uma meta do atual prefeito Bruno Covas (PSDB) ao biênio 2019/2020, que visa implantar 173,35 quilômetros de infraestrutura cicloviária na cidade, dando continuidade à implantação de ciclovias, estagnada desde que seu antecessor João Doria, também do PSDB, assumiu o executivo. A paralisação dessa política trouxe, como consequência, um significativo aumento do número de ciclistas mortos nas ruas da capital, que triplicou no primeiro semestre deste ano.

Apesar do grande salto no número de ciclovias e ciclofaixas que São Paulo deu na gestão passada do então prefeito Fernando Haddad (PT), a cidade ainda carece de infraestrutura cicloviária, principalmente quando se trata de conexões entre bairros da periferia geográfica e o restante da bem servida malha cicloviária do centro expandido. Há, ainda, distritos e subprefeituras inteiras sem sequer um quilômetro de vias ou faixas destinada à circulação de ciclos, como é o caso de Guaianases. A rede cicloviária possui atualmente 500 quilômetros, contra os 20 mil quilômetros de rede viária que São Paulo possui. A infraestrutura cicloviária abrange, portanto, apenas 2,5% da rede viária total. 

Ao longo deste ano, a o Departamento de Planejamento de Modos Ativos (DPM) da CET - Companhia de Engenharia de Tráfego realizou workshops (encontros com ciclistas) para discutir as necessidades que cada subprefeitura possui em relação à política cicloviária. Essas reuniões subsidiaram a equipe técnica quanto aos traçados propostos e dificuldades de mobilidade por bicicleta nas mais diversas escalas. Agora, para dar continuidade ao processo e para cumprir um dos pontos do plano de metas do atual prefeito, as audiências públicas serão realizadas a fim de discutir de forma mais ampla o projeto.

As audiências públicas serão divididas por grupos de subprefeituras e serão realizadas em datas e locais distintos. Comparecer a esses espaços de debate é tão importante quanto necessário para que o avanço da rede cicloviária seja concretizado. Ao final deste texto, estão listadas todas as datas e locais onde essas audiências serão realizadas.

ANÁLISE DAS PROPOSTAS NA ZONA LESTE


Na apresentação da CET, um mapa dividido em "Rede de Referência" (isto é, aquela desenhada, mas sem prazo estritamente estabelecido para que sejam de fato implantadas); "Conexões SMT 2019-2020" (aquelas propostas pela CET para serem implantadas até o final da atual gestão); e "Ciclovias Implantadas" (aquelas já existentes na cidade).


Mapa apresentado pela CET. Disponível em: https://participe.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/plano-cicloviario

Para melhorar a visualização, o mapa foi fragmentado em suas três camadas e oportunamente sobrepostos. Atente-se principalmente ao mapa 3, em que são sobrepostas as ciclovias existentes às propostas.


Mapa 1 - ciclovias implantadas:

Disponível em https://drive.google.com/open?id=1dgJghi9KR8xyFZUMhpB77CfbZM8wmSI4&usp=sharing&fbclid=IwAR1Her3VBbV9A83SPi6LisEqbIRZd-0KfS-vM8_9Y7bn3G6huD-k-ETVW1U

Mapa 2 - rede proposta:

Disponível em https://drive.google.com/open?id=1dWtBt2-j5dEwLQtmg7Tn-mJdTxaqFe2N&usp=sharing&fbclid=IwAR1fbA8c-39GIITgQRFgF-jtz41gaZgQbfCfsPft9dh3d3BHEG-erv7M7NE

Mapa 3 - ciclovias implantadas + rede proposta (sobreposição):

Disponível em https://drive.google.com/open?id=1j__svopdTLdxwZ0IDAi3whlLBpvx2DUW&usp=sharing&fbclid=IwAR0nBqhK_kDwfb5I3xKFh21UqUMcM8PlLomYQxpOj52FDYOvmiDE0pO94nE

Alguns pontos valem ser destacados:

1. Boa parte das rotas propostas na Zona Leste, da forma como estão traçadas, são conexões mais do que necessárias, mas demandam intervenções bem mais complexas e custosas que a simples sinalização viária. É o caso da Avenida Aricanduva, por exemplo. A menos que a ciclovia seja inserida de forma capenga, com poucos acessos, baixíssimo nível de segregação considerando a densidade de volume de tráfego motorizado ao longo dessa via arterial e com péssima integração com os lotes lindeiros, necessitar-se-á de uma intervenção que contemple todo o entorno imediato. O mesmo se aplica ao trecho Tatuapé-Parque Dom Pedro II, proposto na Avenida Radial Leste e há tempos defendido por cicloativistas da região, e à Avenida Jacú-Pêssego. Não ficou muito bem esclarecido como (e se) pretendem fazer essas intervenções.

Pista central da Avenida Aricanduva margeando o córrego, sem acessos direto das ruas perpendiculares (exceto onde há pontes), isolada dos lotes lindeiros e com transposições a uma distância que justificam a bidirecionalidade de eventuais ciclovias em ambos os sentidos da via. Disponível em https://goo.gl/maps/6qHV9w3weroGoWj46

2. Algumas rotas cicloviárias existentes e outras propostas permanecerão desconectadas da rede ou dos principais eixos arteriais. Isso foi identificado nos seguintes locais:

a) Ciclovia Jardim Helena: receberá conexão com o Parque Ecológico Tietê, mas permanecerá desconectada da ciclovia proposta na Avenida José Pinheiro Borges, que por sua vez conectar-se-á à ciclovia Caminho Verde (Radial Leste);



b) Ciclovia do eixo Dr. Assis Ribeiro (existente)/Gabriela Mistral (proposta): mesmo chegando à centralidade da Penha de França, permanecerá desconectada da estação de metrô, bem como da ciclovia Caminho Verde (Radial Leste);


c) Ciclovia proposta na Avenida São Miguel: não terá conexão com a ciclovia Caminho Verde (Caminho Verde) nem estações do metrô;


d) Ciclovia Av. Afonso de Sampaio e Souza: receberá conexão com a ciclovia Caminho Verde (Radial Leste) e o Metrô Artur Alvim permanecerá desconectada do centro de Itaquera, mas isso ocorrerá através da Avenida Maria Luiza Americano, obrigando ciclistas do Jardim Nossa Senhora do Carmo a pedalarem por uma íngreme subida e no sentido oposto para que percorram tal trajeto. A Rua Harry Dannemberg e a Avenida Itaquera, que possibilitariam conexão direta e contínua da ciclovia existente com o centro de Itaquera e com a ciclovia Caminho Verde (Radial Leste) foram desconsideradas no plano;


e) Ciclovia da Avenida Bento Guelfi: permanecerá desconectada da ciclovia proposta na Avenida Ragueb Chohfi por (pasme!) 110 metros de ausência de infraestrutura;


f) Ciclovia Parque São Rafael: permanecerá completamente isolada da rede. Nem sua conexão com a Praça Felisberto Fernandes da Silva (Largo de São Mateus), pela Avenida Sapopemba, nem sua conexão com a ciclovia Parque São Lourenço, pela Avenida Satélite, ambas previstas na Rede Referência, foram contempladas. Como consequência, todas as ciclovias do extremo sudeste ficam desconectadas entre si pelas avenidas Sapopemba e Satélite;

Ciclovia Parque São Rafael Isolada

Ausência de conexões pelo Sul, mesmo previstas na Rede Referência


g) Ciclovia da Av. Arquiteto Vilanova Artigas: permanecerá desconectada da ciclovia em implantação pelo Metrô na Avenida Sapopemba por (pasme de novo!) 75 metros de ausência de infraestrutura;


h) Ciclovia Adutora Rio Claro (Parque Linear Zilda Arns): permanecerá desconectada do eixo cicloviário da Avenida Abel Ferreira;


i) Ciclovias perimetrais (existentes): muitas delas não tiveram suas conexões resolvidas, como é o caso da Av. Satélite, da Av. Arqo. Vilanova Artigas, da Av. Arraias do Araguaia, da Av. Aguiar da Beira e da Av. Trumain/ R. Taubaté.


j) Tatuapé/Viaduto Bresser: permanecerão desconectados;



3. A priorização das conexões arteriais, inquestionavelmente necessárias, aparecem diversas vezes no mapa. Entretanto, as conexões locais, nas vias coletoras e que dependem do enfreamento político pela equalização da distribuição espacial do viário, democratizando o espaço excessivamente ocupado pelo automóvel ao trocar o privilégio por um direito (o privilégio de ocupar um espaço público de forma privada gratuitamente versus o direito de circular de bicicleta e manter-se vivo), que diga-se de passagem, tratam-se de intervenções muito mais sucintas e baratas e que poderiam ser resolvidas somente com sinalização viária, foram sumariamente limadas da rede proposta. A Avenida Barenosa de Muritiba (e os outros nomes que ela recebe ao longo do mesmo eixo), por exemplo, que é a principal via coletora do São Rafael, e permitiria, além da integração com o comércio local, a conexão com a ciclovia da Adélia Chohfi, que por sua vez está conectada à ciclovia em implantação sob o monotrilho e à ciclovia proposta na Avenida Ragueb Chohfi, foi ignorada do plano, mesmo possuindo, em parte do seu trecho, uma faixa amarela de divisão de fluxos opostos extremamente larga e subutilizada, que possibilitaria manter as duas faixas de estacionamento mais as duas faixas de rolamento, além de uma segura e bem sinalizada ciclofaixa.

Rua Paulo Nunes Félix (eixo da Av. Bra. de Muritiba), com sua largura excessiva e sua grande faixa amarela de divisão de fluxos opostos subutilizada. Disponível em https://goo.gl/maps/bJYmxoGLtnR2wZwB9

4. Sobrepõe desnecessariamente 1,1 quilômetro de ciclovia na Avenida Vereador Abel Ferreira, num trecho em que a conexão é feita por uma rua paralela. A rota atual é mais favorável, já que é atendida por uma ciclofaixa bidirecional, com boa relação com o entorno (o acesso em qualquer ponto, para qualquer sentido, pode ser feito de forma pacífica). A Avenida Vereador Abel Ferreira nesse trecho, no entanto, não possui transposição entre seus dois sentidos, os veículos transitam em altíssima velocidade, possui um rio com mureta baixa e baixa acessibilidade aos lotes lindeiros. Esse 1,1 quilômetro poderia ser usado, por exemplo, para potencializar uma conexão entre a ciclovia da Estrada do Imperador com a ciclovia da Rua Cardon.

Conexões sobrepostas

Parte do trajeto atual na Rua Dona Vitória Speers. Disponível em https://goo.gl/maps/v2uk1UMH5E4w5K4v8

Trajeto proposto pela CET. Disponível em https://goo.gl/maps/5Zo1PfTXxT4v38zN6

E você, o que achou das propostas apresentadas? Não se esqueça, a de suma importância a presença massiva nas audiências públicas defendendo nossas pautas. Abaixo, está a lista de horários e locais onde elas serão realizadas.

LOCAIS E HORÁRIOS DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS


23/05 - Norte 1:
PERUS , PIRITUBA , FREGUESIA DO Ó/BRASILANDIA, CASAVERDE / CACHOEIRINHA
HORÁRIO: 19- 21h
LOCAL: Casa de Cultura Salvador Ligabue 
ENDEREÇO: Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó nº 215-Freguesia do Ó

24/05 - Norte 2:
JAÇANÃ/TREMEMBÉ, SANTANA/TUCURUVI - VILA MARIA / VILA GUILHERME
HORÁRIO: 19- 21h
LOCAL: Auditório da Subprefeitura Santana/Tucuruvi 
ENDEREÇO: Av. Tucuruvi, nº 808 – Tucuruvi

30/05 – Oeste:
LAPA , BUTANTÃ , PINHEIROS 
HORÁRIO: 19 -21h
LOCAL: AUDITÓRIO DA SUBPREFEITURA DE PINHEIROS 
ENDEREÇO: Av. das Nações Unidas,nº 7123 - Alto de Pinheiros

31/05 – Leste 1:
MOOCA , PENHA, VILA PRUDENTE
HORÁRIO: 19- 21h 
LOCAL: AUDITÓRIO DA SUBPREFEITURA DA MOOCA 
ENDEREÇO: Rua Taquari, nº 549 – Mooca

06/06 – Leste 2:
SAPOPEMBA , ARICANDUVA
HORÁRIO: 19 -21h 
LOCAL: SUBPREFEITURA ARICANDUVA / FORMOSA/CARRÃO 
ENDEREÇO: RUA Atucuri nº 699- Chácara Santo Antônio

07/06 – Leste 3:
SÃO MIGUEL, ITAIM PAULISTA , ITAQUERA , GUAIANAZES, SÃO MATEUS, CIDADE TIRADENTES , ERMELINO MATARAZZO
HORÁRIO: 19 – 21h 
LOCAL: SUBPREFEITURA DE CIDADE TIRADENTES 
ENDEREÇO: Rua Juá Mirim s/nº – Chácara Santa Etelvina

12/06 – Centro:
HORÁRIO: 19h – 21h 
LOCAL: PRAÇA DE ATENDIMENTO DA SUBPREFEITURA DA SÉ 
ENDEREÇO: Rua Álvares Penteado,nº 53 – Centro

13/06 – Sul 1:
IPIRANGA , JABAQUARA , VILA MARIANA
HORÁRIO: 19 - 21h 
LOCAL: AUDITÓRIO DA SUBPREFEITURA DO IPIRANGA 
ENDEREÇO: Rua Lino Coutinho,nº 444 - 1º Andar - Ipiranga

14/06 - Sul 2:
SANTO AMARO , CIDADE ADEMAR , CAMPO LIMPO 
HORÁRIO: 19 – 21h 
LOCAL: SUBPREFEITURA DE SANTO AMARO 
ENDEREÇO: RUA Floriano Peixoto ,nº 54 - 1º Andar – Santo amaro

19/06 – Sul 3:
PARELHEIROS, CAPELA DO SOCORRO , M’BOI MIRIM 
HORÁRIO: 19 – 21h 
LOCAL: SUBPREFEITURA DE M’BOI MIRIM 
ENDEREÇO: Av. Guarapiranga , nº1695 – Parque Alves Lima


Felipe Claros,
do Bike Zona Leste

Comentários

  1. Ótima análise Felipe! Realmente faltam conexões simples e as q foram propostas e essenciais, como a ligação Tatuapé-Centro é muito provável q não saia nesta gestão, por ser de maior complexidade ou seja, continuaremos sendo a região menos conectada da rede. Mas vamos em frente, em cada audiência p avançar na discussão...

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